A
IDADE DAS CONTESTAÇÕES
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“Que fase! Os jovens contestam tanto... Estão muito rebeldes!”
Quem
já não ouviu esta frase?
Tantas
pessoas dão ênfase ao assunto, estão rotulando os jovens e nem procuram as
respostas para suas contestações. Mas, pouco se fala, ou se publica, sobre as
dificuldades que os pais, e mesmo os adultos em geral, têm em aceitar a transformação
que passa o adolescente. E muitos não sabem sequer estabelecer uma boa relação
com os filhos.
Quando
a conversa em discussão é a criança, os pais expressam uma opinião uniforme.
Isto já não ocorre quanto o assunto é o adolescente. Muitos pais tomam atitudes
de espanto, temor e até mesmo de hostilidade, além de mostrarem seus
sentimentos de distância e indiferença. Esta maneira de agir mostra que quanto
menos eles se envolverem com o assunto melhor. Não participam da evolução
social e por isso se abstêm de qualquer opinião ou envolvimento. Psicólogos
comprovam estas atitudes em seus estudos.
Acredito
que os pais devem seguir, passo a passo, a evolução das necessidades e mudanças
de seus filhos. Esta é uma atitude normal, tentando compreender e, sobretudo,
respeitar seus sentimentos e direitos. Devem permitir um mútuo entendimento,
quebrando as barreiras que tanto sacrificam pais e filhos.
Já
está comprovado, os pais que melhor se envolvem com a realidade têm mais chance
de ensinar e orientar melhor os seus filhos, mostrando-lhes como enfrentar os
desafios, não os afastando dos perigos, já que todos somos vulneráveis a eles.
Os
pais devem ter mais consciência e reflexão em relação à educação que dispensam
aos filhos, tendo uma conduta que os levem ao diálogo, para consolidar uma
relação de confiança, de mais amizade, e consequentemente mais amor!
Na
fase da adolescência, é normal o jovem contestar, esbravejar, até dizer
besteiras infundadas. Ele se sente no direito disso e daquilo. O adolescente
reina, com sua coroa recheada de louros que ele mesmo vai os colocando, à
medida que se sente o rei de toda e qualquer situação.
Geralmente,
o jovem é idealista demais e quer mudar o mundo, e muito mais ainda quando ele
acha que o mundo todo está contra ele: “Ah! Não! Tudo acontece de ruim comigo.
Que droga de vida! Dá vontade de sumir...”
E
aí? Sumir para onde?
Ele
quer sair de casa, com uma mochila às costas e nada mais. Quer dar um tempo da
família. Não suporta mais tanta pressão, e por isso pensa que lá fora vai poder
respirar mais aliviado, e o seu mundo será melhor, mais colorido, cheio de
vida. Quantos jovens assumem esta posição e não voltam. Vivem uma utopia, mas
preferem não admitir a derrota. Consideram-se senhores de si mesmos e querem
mostrar ao mundo que podem vencê-lo. Uns acertam, já outros acabam se
entregando à marginalidade, infelizmente. Porém, há jovens que não aguentam
quanto a barra começa a pesar, e aí a “coisa pega” e voltam rapidinho para o
aconchego do lar, para o seio da família, de onde eles jamais poderiam se
ausentar enquanto não tivessem condições. Admitem o erro, e muitas vezes são
recebidos como os filhos prodigiosos, com toda a pompa, ou então os pais os
recebem com indiferença, e estes filhos são obrigados a resgatar o seu amor e
confiança.
Há
pais que não sabem bem como lidar com os desejos súbitos dos filhos, e com suas
manias e vícios, que adquirem como hábitos normais, e que acabam irritando os
mais velhos. Por isso mesmo, estes pais, diante desta constante irritabilidade
e para se verem logo livres dela, acabam cedendo aos caprichos, ou então
procuram castigar os filhos. Chantageiam, muitas vezes, para disfarçar a
preocupação que têm em protegê-los, e assim agem com imposições e muito
controle: “Quero o seu bem, meu filho.” “Tudo o que faço é com a melhor das
intenções.” De forma bastante autoritária, para que o filho não tenha chance de
argumentar, sofrendo calado este tipo de pressão. E sendo assim o filho vai
agir de maneira compulsiva, contestando a seu modo, pois o jovem, muitas vezes,
não liga a mínima para regras e convenções.
Chego
a comparar o nosso jovem ao “anel da energia e do humor”. A cada dia, ele
levanta com uma cor, e é capaz de ir mudando-a da manhã à noite.
Nós
adultos pensamos muitas vezes em qual seria a melhor maneira de agradar aos
jovens. Tentamos de um lado e de outro. Se na maioria das vezes não o
conseguimos, de quem á a culpa, afinal?
Com
certeza, psicólogos e psicanalistas podem responder a esta questão, mas eu
creio que é simples a resposta: a culpa não está no adulto nem no jovem. Ambos
estão simplesmente agindo à sua maneira. O adolescente tem uma posição perante
à vida, que lhe é peculiar, e os adultos têm outra. Não conseguem agradar um ao
outro.
Muitos
pais têm o desejo de ensinar o “caminho das pedras” aos filhos e se desdobram
por isso. Mas, os filhos querem, e necessitam, descobri-lo por si mesmos. Para
eles, é imprescindível esta busca, que funciona como uma autoafirmação. O jovem
tem sede de poder sobre ele mesmo, daí tantas contestações!
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