UMA
CONVERSA FRANCA, DE ADULTO PARA ADULTO
Devido
às transformações de seu corpo, os adolescentes se sentem transtornados. Também
os pais, diante do processo de desenvolvimento dos filhos, se vêm numa situação
difícil, pois sentem uma espécie de angústia que vivenciam com a perda do corpo
de seu filho-criança.
De
acordo com os psiquiatras, os pais percebem uma nova realidade, estão começando
a envelhecer. Com a evolução de se relacionarem, a partir de então, com o filho
de adulto para adulto, algumas renúncias serão impostas aos pais. O filho perde
aquela imagem dos pais criada por ele, e ao mesmo tempo os pais estarão sujeitos
a críticas e aos sentimentos contraditórios dos filhos, assim como a ternura e
a raiva, por exemplo. Com efeito, os pais têm dificuldades em aceitar este
desenvolvimento do filho adolescente, ainda mais quando, inconscientes, não
percebem estes embaraços.
Alguns
pais estão sempre dizendo que o filho está numa fase difícil, na fase da
“aborrecência”. Só que não se dão conta de que eles próprios estão encobrindo,
desta maneira, a sua incapacidade de entender o filho.
Muitos
filhos querem inovar, e diante disto os pais se sentem ameaçados. Por isso,
geralmente reagem com atitudes repressoras, causando um grande aborrecimento a
eles, seus filhos. O jovem, então, numa atitude repentina, irá romper com os
pais, irá preferir substituir o amor deles por novos relacionamentos afetivos,
extrafamiliar, onde poderão encontrar apoio e segurança.
Quando
o jovem fracassa ao lidar com esta separação, ele se defende, sem o saber,
convertendo aquele amor aos pais em emoções opostas. Por isso, o amor torna-se
ódio, a dependência se transforma em rebeldia e o respeito vira desprezo. Mas é
apenas superficial esta posição dos filhos, quando acham que estão livres dos
pais, porque, na realidade, eles permanecem ligados à figura deles. Contudo, se
o jovem traz consigo boas imagens de seus pais, aqueles que, desde a sua
infância, sempre foram amorosos, cuidadosos com a educação e o respeito que lhe
deram, a separação será mais fácil. Esta separação dos pais de infância é uma
tarefa difícil de enfrentar, e por isso o jovem trava uma luta ferrenha. Muitas
vezes, chega a menosprezá-los, negando sua importância. Culpam os pais de serem
estúpidos e inúteis. Desta maneira, parece-lhes que fica mais fácil lidar com
esta perda, já que tinham apego pelos pais quando crianças.
Gosto
destas considerações, uma vez que estamos constantemente percebendo esta
atitude nos jovens. A perda dos pais de infância, a que se refere Anna Freud,
em seus estudos, esclarece-nos o comportamento do jovem, que percebe que deverá
se libertar da criança que foi um dia, e não faz muito tempo, para arcar de vez
com a sua adolescência proeminente.
Os
jovens pensam que poderão alcançar os louros de sua adolescência, ao se
libertarem de vez da figura paternalista. Muitos não querem a interferência dos
mais velhos durante o seu desenvolvimento, pois acreditam que podem se virar
sozinhos. Para tanto, precisam negar a figura dos seus pais de infância. Este
rompimento, necessário, se faz de uma forma brusca, e às vezes acaba gerando
complicações entre pais e filhos. Devemos admitir que os pais sofrem com isso.
Sem mais nem menos, se vêm diante desta situação que os coloca como vítimas de
seus próprios folhos. Esta questão é tão pouca percebida pelos filhos e pelos
pais. Ambos passam por esta experiência, e não têm a menor noção do que ela
realmente implica.
Ouvimos
tanto esta frase: “É preciso romper o cordão umbilical.” Talvez, seja esta a
importância da perda dos pais de infância. Lembro-me que a figura de meus pais,
quando eu era criança, foi totalmente redesenhada quando me tornei adolescente.
Devemos
lembrar que o tempo passa, e com ele surgem as mudanças e as transformações que
todos sofremos ao longo de nossas vidas. O adolescente, quando deixa de ser
criança, normalmente não percebe que também seus pais estão passando por uma
fase de grande amadurecimento, principalmente se casaram ainda muito jovens. Só
o que ele sente é que aos poucos a imagem de seus pais vai se distorcendo, ele
não encontra mais aqueles traços que lhe eram bastante familiares quando
criança. Contudo, é necessária a atenção para este fato: a perda dos pais de
infância pode acontecer sem maiores problemas, como pode também causar a
rebeldia dos filhos ao lidar com este rompimento.
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