sábado, 27 de julho de 2013

UMA CONVERSA FRANCA, DE ADULTO PARA ADULTO


UMA CONVERSA FRANCA, DE ADULTO PARA ADULTO

 

Devido às transformações de seu corpo, os adolescentes se sentem transtornados. Também os pais, diante do processo de desenvolvimento dos filhos, se vêm numa situação difícil, pois sentem uma espécie de angústia que vivenciam com a perda do corpo de seu filho-criança.

De acordo com os psiquiatras, os pais percebem uma nova realidade, estão começando a envelhecer. Com a evolução de se relacionarem, a partir de então, com o filho de adulto para adulto, algumas renúncias serão impostas aos pais. O filho perde aquela imagem dos pais criada por ele, e ao mesmo tempo os pais estarão sujeitos a críticas e aos sentimentos contraditórios dos filhos, assim como a ternura e a raiva, por exemplo. Com efeito, os pais têm dificuldades em aceitar este desenvolvimento do filho adolescente, ainda mais quando, inconscientes, não percebem estes embaraços.

Alguns pais estão sempre dizendo que o filho está numa fase difícil, na fase da “aborrecência”. Só que não se dão conta de que eles próprios estão encobrindo, desta maneira, a sua incapacidade de entender o filho.

Muitos filhos querem inovar, e diante disto os pais se sentem ameaçados. Por isso, geralmente reagem com atitudes repressoras, causando um grande aborrecimento a eles, seus filhos. O jovem, então, numa atitude repentina, irá romper com os pais, irá preferir substituir o amor deles por novos relacionamentos afetivos, extrafamiliar, onde poderão encontrar apoio e segurança.

Quando o jovem fracassa ao lidar com esta separação, ele se defende, sem o saber, convertendo aquele amor aos pais em emoções opostas. Por isso, o amor torna-se ódio, a dependência se transforma em rebeldia e o respeito vira desprezo. Mas é apenas superficial esta posição dos filhos, quando acham que estão livres dos pais, porque, na realidade, eles permanecem ligados à figura deles. Contudo, se o jovem traz consigo boas imagens de seus pais, aqueles que, desde a sua infância, sempre foram amorosos, cuidadosos com a educação e o respeito que lhe deram, a separação será mais fácil. Esta separação dos pais de infância é uma tarefa difícil de enfrentar, e por isso o jovem trava uma luta ferrenha. Muitas vezes, chega a menosprezá-los, negando sua importância. Culpam os pais de serem estúpidos e inúteis. Desta maneira, parece-lhes que fica mais fácil lidar com esta perda, já que tinham apego pelos pais quando crianças.

Gosto destas considerações, uma vez que estamos constantemente percebendo esta atitude nos jovens. A perda dos pais de infância, a que se refere Anna Freud, em seus estudos, esclarece-nos o comportamento do jovem, que percebe que deverá se libertar da criança que foi um dia, e não faz muito tempo, para arcar de vez com a sua adolescência proeminente.

Os jovens pensam que poderão alcançar os louros de sua adolescência, ao se libertarem de vez da figura paternalista. Muitos não querem a interferência dos mais velhos durante o seu desenvolvimento, pois acreditam que podem se virar sozinhos. Para tanto, precisam negar a figura dos seus pais de infância. Este rompimento, necessário, se faz de uma forma brusca, e às vezes acaba gerando complicações entre pais e filhos. Devemos admitir que os pais sofrem com isso. Sem mais nem menos, se vêm diante desta situação que os coloca como vítimas de seus próprios folhos. Esta questão é tão pouca percebida pelos filhos e pelos pais. Ambos passam por esta experiência, e não têm a menor noção do que ela realmente implica.

Ouvimos tanto esta frase: “É preciso romper o cordão umbilical.” Talvez, seja esta a importância da perda dos pais de infância. Lembro-me que a figura de meus pais, quando eu era criança, foi totalmente redesenhada quando me tornei adolescente.

Devemos lembrar que o tempo passa, e com ele surgem as mudanças e as transformações que todos sofremos ao longo de nossas vidas. O adolescente, quando deixa de ser criança, normalmente não percebe que também seus pais estão passando por uma fase de grande amadurecimento, principalmente se casaram ainda muito jovens. Só o que ele sente é que aos poucos a imagem de seus pais vai se distorcendo, ele não encontra mais aqueles traços que lhe eram bastante familiares quando criança. Contudo, é necessária a atenção para este fato: a perda dos pais de infância pode acontecer sem maiores problemas, como pode também causar a rebeldia dos filhos ao lidar com este rompimento.

 

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